sexta-feira, 14 de junho de 2013

CONFLITO DE INTERESSES


ALTA RODA, Fernando Calmon



No próximo mês a indústria atingirá a produção de 20 milhões de veículos leves cujos motores podem ser abastecidos indiferentemente com etanol ou gasolina. Mais conhecidos como motores flex, em pouco mais de 10 anos (completados em março último) conseguiram crescente aceitação. Hoje, respondem por cerca de 90% das vendas de veículos leves com motores de ciclo Otto, inclusive de modelos de origem sul-coreana e chinesa que tiveram desenvolvimento no exterior.

É preciso lembrar que essa tecnologia chegou a ser ridicularizada no início, em 2003. No entanto, ela veio para ficar e, aos poucos, superou problemas. Esta semana, a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) relembrou a trajetória de sucesso dos motores flex. Um dos poucos exemplos em que o Brasil vem mostrando competência em termos de pesquisa e inovação. Na sétima edição do Prêmio AEA de Meio Ambiente, o trabalho acadêmico vencedor de Jorge Tenório (Universidade de São Paulo) e Joner Alves (Aperam, ramo siderúrgico) tratou da geração de energia a partir de resíduos da produção de etanol.

Combustível e veículo se complementam. Motores flex nasceram para que os proprietários de automóveis tivessem uma alternativa em função do preço de cada combustível nos postos de abastecimento. Entretanto, há de se administrar previsíveis conflitos de interesse entre a indústria petrolífera e a de biocombustíveis. Essa arbitragem deveria caber ao mercado, mas não dá para deixar de reconhecer ou abrir mão do papel dos governos. No caso do Brasil isso ocorre de forma errática: hora estimula, hora desestimula a produção de etanol.

Como bem lembrou o professor Francisco Nigro, em sua palestra durante a premiação referida, se há objetivo sincero de redução de emissões de gás carbônico (CO2), o biocombustível de cana-de-açúcar é imbatível. Para ele, faltam ações coordenadoras ao governo brasileiro, participante do programa mundial de limitação daquele gás de efeito estufa que provocaria mudanças climáticas. A descoberta de petróleo na difícil camada pré-sal, muito abaixo do leito do fundo do mar em águas profundas e longe da costa, levou a euforia e quase descarte dos combustíveis renováveis.

Nigro lembrou que a indústria precisa também avançar. Segundo suas pesquisas nos dados disponíveis do programa de etiquetagem veicular, motores flexíveis ao consumir etanol mostram, na média, deficiência de 2% em relação à gasolina, especialmente no ciclo rodoviário. Tal desvantagem não é desprezível, pois se trata de medição de eficiência energética, em quilojoules/km, que compensa a diferença de poder calorífico entre os dois combustíveis. Lembra que se trata de média e, assim, há motores melhores e piores.

Essa situação, por informações de várias fontes, deve e vai mudar graças às metas impostas no programa Inovar-Auto.

RODA VIVA

CONFORME apurações, essa coluna antecipa que o Nissan Note substituirá o Livina em janeiro de 2015, na nova fábrica da marca japonesa em Resende (RJ). Desta unidade sairão antes o March, em janeiro de 2014 e o Versa, em julho do mesmo ano, hoje importados do México. Os três modelos compartilham a mesma arquitetura de veículo mundial compacto.

QUEDA nas importações e reação das exportações levaram a indústria a bater recorde de produção mensal em maio: 348.000 unidades. No acumulado do ano, o crescimento – também recordista – chega a quase 19%. Vendas no mercado interno continuam em bom patamar. Estoques subiram para 36 dias, mas hoje nível entre 30 e 35 dias se considera normal.

AINDA no mês passado a indústria registrou 153.708 empregados, mais 542 vagas. Em 1980, estavam empregadas 153.900 pessoas, em época de baixíssima automatização e poucas operações terceirizadas. Depois de 33 anos, bastam apenas pouco menos de 200 novos empregos diretos agora em junho para que o total de funcionários ultrapasse a marca histórica.

VOLVO V40 deu um salto em estética e tecnologia. Compacto da marca sueca, importado da Bélgica, é o primeiro automóvel equipado opcionalmente com airbag de proteção a pedestre. Mostra estilo arrojado, interior bem cuidado e itens encontrados, em geral, em modelos de classe superior. Parte, completo, de R$ 115.900 e pode agregar três pacotes de livre combinação.

MOTOR de cinco cilindros em linha/dois litros/180 cv tem sonoridade próxima a de um venerável seis-cilindros em linha, mas poderia oferecer potência maior, pois utiliza turbocompressor. Suspensões independentes nas quatro rodas garantem comportamento seguro em curvas de qualquer raio. Mas, agravado pelo uso de pneus de perfil baixo, não é das mais silenciosas.

VEDAÇÃO da capota retrátil de lona do Fiat 500 é tão boa que torna o interior até mais silencioso do que a versão convencional. De fato, essa capota funciona mais como enorme teto solar elétrico, que se acomoda atrás do banco traseiro, depois de compactada. Porém, há movimentação estrutural além do aceitável, quando totalmente aberta.

Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV. 

Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.

fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon

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