terça-feira, 28 de janeiro de 2014

ALÍVIO DE NOVOS ARES


ALTA RODA, Fernando Calmon



Quando fecharam as portas no próximo domingo, os organizadores do Salão de Detroit, depois de investir em reformas e ampliação das áreas de exposição, puderam respirar aliviados. Indicadores apontam recuperação firme do mercado interno americano (15,6 milhões de automóveis e comerciais leves em 2013), interesse maior pelos salões e até outra mentalidade em relação aos modelos caros. Compradores abonados voltaram a trocar de carro, sem preocupação de manter a cor, para não chamar a atenção de vizinhos e amigos.

Um dos ícones para os americanos estreou na exposição do Cobo Hall com a maior evolução de sua história. A picape pesada F150, veículo líder por lá há 37 anos em quatro versões de mesmo nome, agora usa várias partes da carroceria em alumínio. Representou menos 320 kg de peso e permitiu oferecer motor V-6 turbo de “apenas” 2,7 litros. Novos Mustangs cupê e conversível atraíram atenções, mas aqui só em 2015.

Estreia mundial, que interessa de perto, pois será produzido em Iracemápolis (SP), foi o Mercedes-Benz Classe C todo novo, antes só visto em fotos. O sedã ficou maior por dentro, 100 kg mais leve e tem opções de suspensão a ar e porta-malas com caixa sanfonável central.


Novo Honda Fit, um pouco mais largo e maior entre-eixos, é o mesmo de produção brasileira previsto para o segundo trimestre, agora de novo com câmbio automático CVT. Em entrevista a jornalistas brasileiros, o executivo da Hyundai responsável por vendas mundiais, Tak Uk Im, admitiu ampliação da fábrica de Piracicaba (SP) para produção do SUV compacto derivado do HB20 e até do i30 em Anápolis (GO).

A anunciada fusão Fiat-Chrysler repercutiu no salão e a empresa falou pela primeira vez em uma fábrica brasileira, sem pormenores. Certamente ficará em Goiana (PE) e os produtos serão Jeep, conforme essa coluna já adiantou.

Detroit também viu novidades bem interessantes. Destaque para a classuda versão Targa do Porsche 911, agora com teto central de lona e escamoteamento elétrico. BMW mostrou o Série 2 (cupê do Série 1) e motores 6-cilindros em linha (no lugar dos V-8) nos sedãs “superardidos” M3 e M4. Corvette Z06 com seu V-8 de 625 cv/87 kgf∙m, surpreendeu por oferecer, além de câmbio automático de oito marchas, um manual de sete marchas, visto antes apenas no 911.



Entre carros-conceito, Audi e Volvo sobressaíram com Allroad Shooting Brake e XC que antecipam os futuros Q1 e XC90, respectivamente. Toyota ousou ao mostrar o modelo esporte FT-1, que inclui vidro no capô para exibir o motor (pode ser V-6 ou V-8). Mas há também exagerados, como VW Beetle (Fusca) Dune, cheio de apêndices de dar inveja a “aventureiros” desvairados. Tomara que o czar de design, Walter de’ Silva, não aprove esse cochilo de salão.

GM esteve em dúvida, mas acabou de volta ao segmento das picapes médias com a Chevrolet Colorado, na realidade versão da S10 feita no Brasil e na Tailândia com frente e acabamentos diferentes. Quanto à Cadillac, trocou o estande do grupo por nova posição bem em frente à Mercedes-Benz. Afinal, seus modelos miram diretamente nas marcas premium alemãs. A subsidiária brasileira deve importar ao menos um modelo de sua marca de topo, talvez já no fim do ano.

RODA VIVA

DIFICULDADES cambiais e financeiras na Argentina podem adiar produção do SUV médio Everest, baseado na Ranger, previsto para 2015. Pelo mesmo motivo, Kuga (SUV derivado do Focus) também está sob dúvida. Porém, Ford prepara quatro novidades para o Brasil este ano: compactos Ka (hatch e sedã, cinco e quatro portas), motor 3-cilindros e o novo SUV importado Edge.

DIETER ZETSCHE, presidente mundial da Daimler, disse a jornalistas no Salão de Detroit que planos da Mercedes-Benz no Brasil vão além dos dois modelos já anunciados: Classes C e GLA. Reafirmou cautela na escolha de futuros produtos, depois dos percalços do Classe A nacional. Para a coluna, embora esse novo hatch não esteja descartado, sedã CLA parece bem cotado.

ABEIVA, que reúne marcas sem produção no Brasil, deseja mudar e abrigar sócios que terão fábricas no País: Chery, JAC e Land Rover. Estas avaliam que não teriam voz ativa na Anfavea, onde só cinco empresas se revezam na presidência, apesar de sua decisões por “consenso”. Na Argentina, Adefa tem rodízio anual por ordem alfabética de todos os membros.

ANTIGO Uno Mille, fora de produção desde dezembro último, passou o indesejado troféu de automóvel mais antigo do mundo em fabricação contínua ao mexicano Nissan Tsuru. Esse ancestral do Sentra, se não for descontinuado, entra agora no 30º ano de vida. Coincidentemente, Lada Samara foi contemporâneo do Uno, lançado em 1984, e também saiu de linha ano passado.

CORREÇÃO: segundo modelo a assumir a liderança, em 2013, de um dos segmentos da coluna Alta Roda, publicada na semana passada, foi o médio-compacto Civic. O outro, monovolume compacto Spin, foi citado corretamente. O C4 Picasso, monovolume médio, já havia liderado sua classe em 2012.

Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV. 

Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de 86 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.

fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon

Nenhum comentário:

Postar um comentário