sábado, 14 de março de 2015

AUDI A3 SEDAN 1.4 TFSI - AVALIAÇÃO



Começamos a avaliação do Audi A3 Sedan 1.4 TFSI já na estrada, como fazemos na maioria das vezes, trazendo o carro de São Paulo a Valinhos, onde fica a redação do blog. A expectativa de iniciar as anotações a partir das impressões sobre a dirigibilidade e o requinte do carro, porém, acabou superada pela surpresa em conseguir média de consumo superior a 19 km/l de gasolina, de acordo com o computador de bordo.



É difícil, aliás, começar a falar deste sedã sem ir direto para o motor, um dos exemplos mais felizes de downsizing que o RACIONAUTO já experimentou. O bloco EA 211 de 1,4 litro e 16 válvulas que equipa o Audi A3 Sedan é da mesma família do motor do Golf, mas a programação eletrônica é diferente. Ele é todo de alumínio, tem injeção direta de combustível, comando de abertura de válvulas variável na admissão e turbo. Segundo a fábrica esse aparato torna o propulsor capaz de chegar aos 122 cv de potência e 20,4 kgfm de torque constantes entre 1.400 e 4.000 rpm, mas, sinceramente, é difícil acreditar que renda só isso. Basta ver o resultado do teste de dinamômetro que a revista FullPower realizou com o Golf 1.4, oficialmente com 140 cv e 25,5 kgfm de torque mas que chegou aos quase 178 cv e 31,8 kgfm no rolo.


Também são dados de fábrica a aceleração de 0 a 100 km/h em 9,4 segundos e a velocidade máxima de 212 km/h, e nisso é mais fácil de acreditar. A eficiência do pequeno motor, aliás, é que possibilita um rodar tão suave, com rotações bem abaixo dos 3 mil giros mesmo a 120 km/h e, consequentemente, consumo moderado. Tamanha frugalidade nos inspirou a colocá-lo na estrada por mais tempo do que costumamos e isso acabou fomentando a curiosidade sobre como um carro de marca premium, geralmente visado por clientes de classe média-alta e alta, se comporta quando utilizado de forma semelhante a outros sedãs que são alvo da classe média.


Em tempo: o posicionamento agressivo de mercado que a Audi tem adotado para seu sedã de entrada o torna concorrente dos principais sedãs médios de nosso mercado em suas versões de topo. O Toyota Corolla, por exemplo, é o sedã médio mais vendido hoje no país. Na versão Altis seu preço parte de R$ 99.990,00. Nada mais justo, então, do que considerá-lo o principal oponente ao Audi A3 Sedan na versão "básica", que tem preço de tabela de R$ 97.990,00 - neste mês, promocionalmente, é possível adquirir a versão Attraction, mais completa, pelo mesmo valor. Por definição, sedã médio no Brasil é carro que serve para trabalho, compras, lazer e viagens de toda a família e, na maioria das situações, é o único carro da casa. Achamos interessante então colocar o A3 para trabalhar como sedã médio num roteiro que incluiu uma esticada até Goiás, cruzando o "nariz" de Minas Gerais, e ainda um bate-e-volta de Valinhos a Ribeirão Preto, terminando com uma manhã de trânsito pesado em São Paulo. Foram mais de 3 mil quilômetros no total.


Na ida, vazio, o foco foi realmente o consumo. Sem horário marcado para chegar ao destino a viagem seguiu tranquila, com médias entre 100 e 110 km/h na maior parte do trajeto e um pouco mais de pressa em trechos onde era possível desenvolver velocidades maiores com segurança. O resultado foi uma média de consumo de 17,4 km/l de gasolina com ar condicionado ligado o tempo todo. O asfalto bem conservado que o A3 Sedan encontrou em toda a viagem, fruto da privatização da maioria dos trechos e com várias praças de pedágio em construção além das já existentes, contribuiu tanto para a manutenção da velocidade média quanto para tirar a melhor impressão sobre a (excelente) dirigibilidade do sedã.


A transmissão DSG de 7 velocidades é excelente em seu casamento com o motor, extraindo do conjunto o melhor compromisso entre desempenho e economia e apresentando trocas imperceptíveis. Não é, porém, perfeito em si porque traz uma característica bem peculiar, até irritante: um ruído semelhante a parafusos soltos mais perceptível quando passamos ao lado de um muro, por exemplo. Não afeta o comportamento do carro mas deixa o motorista aflito às vezes, até que ele se acostume. Por outro lado, o acerto entre direção e suspensão do Audi A3 Sedan é absolutamente perfeito. Ele é macio para filtrar imperfeições, suave em velocidade e firme nas curvas, sem qualquer tendência a sair de frente ou de traseira, e com manobras feitas como se tivessem passado manteiga no asfalto.


Motorista e passageiro se acomodam muito bem no A3. A coluna de direção tem ajuste de altura e profundidade, e o banco do motorista tem regulagens de altura, distância e do encosto. É fácil se alinhar como num carro de competição, com o banco lá embaixo e as pernas esticadas, e mesmo assim o condutor encontra conforto e nenhuma tendência à fadiga. Para quem vai atrás não se pode dizer o mesmo, com o túnel central ocupando espaço além do razoável e um vão pequeno para as pernas dos dois passageiros que, em tese, poderiam ser transportados com mais conforto. O perfil próximo ao de um cupê deixa ainda o batente superior das portas traseiras muito baixo, dificultando o acesso. O porta-malas não é imenso (380 litros declarados) mas é regular, sem grandes reentrâncias nas laterais e ainda com as articulações "pescoço-de-ganso" da tampa embutidas.


Falando de sedãs médios, numa coisa o Audi os supera de longe: a qualidade de construção e acabamento percebida até nos detalhes. Ainda que o interior desta geração do carro seja minimalista e, nesta versão, o mais simples da linha, não há uma superfície sequer de tato desagradável, nenhum material de baixa qualidade, nenhum vão entre painéis, nenhum lugar para onde se olhe e não se perceba requinte. O volante é de espuma e não tem qualquer botão de controle, mas tem boa pega e aparência: a moldura de alumínio com o símbolo da Audi ao centro explicam. O revestimento dos bancos é de tecido, mas igualmente de boa qualidade e aparência aceitável. O sistema MMI de entretenimento com tela escamoteável no alto do painel traz áudio com excelente qualidade sonora e fácil ajuste através dos controles no console central, mas não tem Bluetooth, traz apenas uma entrada auxiliar P2 dentro do porta-objetos do apoio de braços central e não inclui GPS. Faltou também o sensor de estacionamento, só presente a partir da versão Attraction.


Além do áudio, aliás, não há muito mais na cabine como item de série. O básico está lá: ar condicionado, comandos elétricos com one-touch para os vidros das 4 portas, comandos elétricos para retrovisores externos, direção elétrica, rodas de liga leve com aro de 16 polegadas e sistema Start-Stop. O foco da Audi nesta versão foi a segurança: ABS com EBD, controles de tração e estabilidade, 7 airbags (frontais, laterais, de cortina e para o joelho do motorista), Isofix no banco traseiro e faróis bi-xenon com leds diurnos fazem parte do pacote básico. Para efeito de comparação, o Toyota Corolla Altis traz faróis de xenon simples e não tem controle de estabilidade nem start-stop, apesar de contar com motor flex e sistema multimídia completo com câmera de ré.


Na volta da viagem, com o porta-malas abarrotado e 2 crianças atrás, o A3 enfrentou chuva, neblina (atípica para a região) e muito tráfego de caminhões. Não houve, mesmo assim, qualquer prejuízo à dirigibilidade ou ao conforto e o consumo aumentou pouco, indo a 17,2 km/l de gasolina na média. Silencioso, macio, bom de dirigir e ainda capaz de arrancar um sorriso quando é preciso pisar fundo, a experiência com o Audi A3 Sedan 1.4 fez concluir que apesar de caro de manter e com seguro proibitivo (apólice mais em conta para a região de Valinhos pela Itaú Seguros, cotada a R$ 3.456,00 com franquia de R$ 7.100,00), ele é a melhor escolha do segmento. Por mais completos que sejam os sedãs médios top-de-linha à disposição no mercado hoje, nenhum deles entrega o prazer ao dirigir, a excelência construtiva e o refinamento mecânico que este Audi oferece. Tentamos não criar vínculo com os carros que avaliamos, mas, confessamos, este Audi deixou saudade.

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