sábado, 30 de maio de 2015

ASSIM NÃO DÁ


ALTA RODA, Fernando Calmon

Renault Kwid será feito no Brasil a partir de 2016. Motor será o mesmo 3 cilindros utilizado no Nissan March

Ganho de eficiência energética, ou menor consumo de combustível, é o maior benefício ao consumidor com o programa governamental Inovar-Auto. É economia direta para o bolso do motorista, principalmente se os fabricantes de veículos forem atraídos pelos incentivos adicionais estabelecidos e ultrapassarem a meta — compulsória — de 12% de ganho em 2017 em relação ao consumo da média dos modelos vendidos por cada marca em 2011.


As metas colocadas como desafio são consumir menos 15% e menos 19%, cada uma com bônus de 1 ponto percentual de IPI, revertido para as empresas, por só três anos. No melhor cenário se atingiria a média de consumo de gasolina atual na União Europeia, apesar dos métodos de medição e combustíveis diferentes que, na prática, dão vantagem ilusória aos carros de lá. Até o momento nenhum fabricante daqui se voluntariou, mas há forte movimentação e segredos estratégicos.

No simpósio sobre eficiência energética, emissões e combustíveis, realizado semana passada em São Paulo pela Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), viu-se que soluções são conhecidas, embora esbarrem em custos maiores. Como o País necessitará, nos próximos anos, de importação crescente de gasolina e diesel, contar com uma economia de até 28 bilhões de litros de gasolina entre 2014 e 2021 seria uma boa forma de manter em níveis baixos ou mesmo anular os gastos com combustíveis do exterior.

Para Francisco Nigro, professor da USP e pesquisador do IPT, diferenciar metas do Inovar-Auto para etanol e valorizá-las adequadamente fazem todo sentido para o desenvolvimento tecnológico do setor no país. Sugeriu IPVA menor para carros com motores flex de melhor consumo relativo de etanol (há proposta semelhante no âmbito federal que ainda não saiu do papel). Lembrou que motor turbo, injeção direta e câmbio CVT formam combinação bastante favorável ao etanol, sem prejuízo de eficiência e desempenho ao usar gasolina.

Mário Massagardi, representando o Sindipeças, defendeu que os modelos mais eficientes em seus segmentos tenham incentivo específico ao apresentarem redução de consumo superior à média entre todos os modelos à venda. Ajudaria a estimular a introdução de tecnologias inovadoras e compensaria em parte seu maior preço.

Até agora o governo federal optou por dar uma espécie de “prêmio” a recursos que melhoram o consumo na vida real, porém sem refletir nos ciclos cidade/estrada medidos nos laboratórios: sistema desliga-liga motor, indicadores de troca de marcha e de pressão dos pneus, além de controle da aerodinâmica da grade frontal. Ar-condicionado de maior eficiência ainda não foi contemplado, embora esse equipamento esteja em mais de 80% dos veículos leves novos.

Discutiu-se ainda como veículos híbridos, plugáveis em tomada elétrica ou não, se enquadrarão numa segunda fase do Inovar-Auto e também a convergência aprofundada dos programas de consumo e de emissões veiculares. Má notícia veio dos bastidores: governo deve adiar pela segunda vez, para 1º de janeiro de 2017, a aditivação obrigatória da gasolina, para motores mais limpos e eficientes. Assim não dá.

RODA VIVA

EMBORA tenha diferenças em relação ao carro lançado na Índia, o compacto Kwid será produzido no Brasil em 2016, numa prova de pragmatismo da Renault: um produto puramente francês, como o Clio, não se enquadraria na faixa dos R$ 30.000 necessária para ser competitivo aqui. O hatch é mais curto que outros compactos, mas com bom espaço interno.

SUBSTITUTO do Linea em alguns países, o Aegea (nome provisório) modificado ainda é o candidato mais forte a quarto produto da “fábrica Jeep” em Goiana (PE). Sua plataforma, a mesma do Renegade, já gerou os sedãs Dodge Dart (EUA) e Fiat Viaggio (China). Dimensões maiores em relações aos compactos anabolizados (do City ao Logan) aumentam suas chances no mercado.

Fiat Aegea é candidato a ocupar o lugar do Linea também no Brasil

TERCEIRA geração do Audi TT o deixou com ares mais modernos, sem macular as linhas inconfundíveis. Recebeu quadro de instrumentos totalmente eletrônico e programável, ficou 50 kg mais leve, ganhou 4 cm na distância entre-eixos (sem melhorar exíguo espaço atrás) e aerofólio de elevação automática. Agora a potência é 19 cv maior: 230 cv.  Preços: R$ 209.990 a 229.990.

GOLF VARIANT atraiu muitas curtidas no Facebook desse colunista por seu estilo equilibrado e por ser o modo mais racional de ter um porta-malas de nada menos que 605 litros. Mecânica idêntica à do Golf, inclusive motor turbo de 1,4 L/140 cv. Importada do México, tem versões de R$ 87.400 a R$ 94.990. Fato é que as pessoas ainda gostam de peruas, mas preferem comprar SUVs...

VW Golf Variant, motor 1.4 de 140 cv e 25,5 kgfm e preço entre R$ 87.400 e R$ 94.990

MERCEDES-BENZ aposta que sua linha AMG ainda tem como crescer no Brasil, apesar dos preços proporcionais ao alto desempenho: sedã C 63 S por US$ 209.990 (dólar referenciado em R$ 2,60 pela desvalorização do euro). Empolga mesmo é o cupê biposto Mercedes-AMG GT S (US$ 329.900), um carro esporte autêntico com chassi próprio, V-8 de 510 cv, e mais do que perfeito em curvas.

Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado desde 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix, na TV Tupi (RJ e SP) até 1980. Foi diretor de redação da revista Auto Esporte (77/82 e 90/96), editor de Automóveis de O Cruzeiro (70/75) e Manchete (84/90). Produziu e apresentou o programa Primeira Fila (85/94) em cinco redes de TV. 

Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, começou em 1999. É publicada em uma rede de mais de 100 jornais, revistas e sites. É correspondente para o Mercosul do site inglês just-auto. Além de palestrante, exerce consultoria em assuntos técnicos e de mercado na área automobilística e também em comunicação.

fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon

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