quarta-feira, 3 de agosto de 2016

NOVA GERAÇÃO DO TOYOTA PRIUS REFORÇA A DISCUSSÃO SOBRE A MATRIZ ENERGÉTICA DE TRANSPORTES


PRÓXIMOS DESTINOS, Alberto Martins


Toyota Prius 2017


Recém chegado às concessionárias Toyota, a quarta geração do Prius surge com preço competitivo e mantém a cara de carro experimental. Famoso por sua aura “ecológica”, tem a propulsão híbrida (gasolina + eletricidade) como grande atrativo, que proporciona ao modelo o porte de um veículo médio com o consumo menor que o dos subcompactos atuais equipados motores 1.0 3 cilindros.

A abordagem da Toyota é clara: mira na causa ecológica para atrair o cliente, e aponta para o bolso ao tentar materializar a ideia do carro no dia a dia. Frisa que esta é a quarta geração do modelo para enfatizar que a tecnologia é confiável e explora inúmeros recursos exclusivos que potencializam a sensação hi-tech. Mas deixa claro na ponta do lápis que é vantagem comprar esta causa, investindo o que se economiza em combustível para o financiamento do veículo, com a promessa de manutenções programadas de custo semelhante ao do Corolla. 

Concorrência

Posicionado em uma faixa de preço com opções de diferentes segmentos, bem no limite entre consagrados sedans médios, SUVs e importados premium de acesso, o Prius atende a um nicho específico de mercado que não traduz status em luxo, mas em eficiência e vanguarda. Sob este ponto de vista há poucas opções para o consumidor comum: Fusion Hybrid (maior e semelhante ao exclusivamente movido a gasolina), BMW i3 (menor, apenas elétrico e consideravelmente mais caro), Lexus CT H (que compartilha o conjunto mecânico com a geração anterior do Toyota) e Mitsubishi Oulander PHEV (de porte e preço consideravelmente maiores, e visual semelhante ao modelo de combustível fóssil). Outros modelos híbridos ou elétricos, de marcas como Renault e Nissan, estão disponíveis apenas para Pessoa Jurídica em caráter experimental.

Matriz de Energia e Uso

Toyota Prius 2017

O uso de energia combustível em automóveis é questionado há mais de cem anos, e as tentativas de redução de emissões acompanham o carro em toda sua história. Características como o peso e a baixa eficiência de armazenagem das baterias sempre foram limitadores para este uso da energia elétrica, que combinados aos custos de extração e produção dos seus componentes induziram a indústria a preferir o desenvolvimento de motores à combustão. É verdade que o petróleo se tornou inviável em alguns momentos (como nas crises dos anos 60 e 70), o que levou ao desenvolvimento de motores mais eficientes e proporcionou o pensamento sobre o uso de outras matrizes energéticas, mas ainda à base da queima, resultando obrigatoriamente em emissão de carbono e hidrocarbonetos.

A conta para a análise hoje é mais complexa e extensa: leva-se em consideração extração, transporte, processamento, e distribuição do combustível, sua eficiência em entregar energia, seus resíduos diretos (da queima, por exemplo) e indiretos (da produção e do uso), o impacto econômico/social da não execução de outras tarefas para o desenvolvimento destas, a capacidade de absorção/reciclagem/reutilização dos resíduos, e principalmente, seu impacto sobre a cultura e a saúde de toda população envolvida ao longo de todo este processo. No caso do automóvel, cabem nesta conta ainda toda a matriz de fluidos lubrificantes e refrigerantes necessários para a operação do motor de combustão.


A tentativa portanto é de minimizar o uso de uma matriz extrativista de alto impacto como da gasolina ou diesel, onde os resíduos tem difícil absorção pelo meio ambiente. Combustíveis vegetais levam a uma matriz agrícola, teoricamente sustentável (é possível continuar extraindo do mesmo solo), com queima mais eficiente, mas com todos os resíduos de operação semelhantes. Pesam a favor da propulsão elétrica a ausência de quase todos estes fluidos, e a manutenção menor, dado o sistema mais simples, com menos componentes.

E por que o Híbrido?

A matriz elétrica é muito mais complexa e inclusive pode ter em sua origem energia de combustão, como nas termoelétricas por exemplo. Isso torna a conta de veículos 100% elétricos muito mais pesada, ao carregar no início de sua matriz um processo de pouca eficiência e que acumula perdas em suas transições modais. A melhor condição nesta matriz já está disponível e é extremamente eficiente no Brasil: células fotovoltaicas e redes pequenas de distribuição desta energia, sistema que ainda tem o problema de precisar de baterias para armazenar a energia (e estas baterias também carregam uma pesada conta de extração mineral e impacto ao fim do uso).

Ao manter a proposta híbrida na quarta geração do Prius, a Toyota mais uma vez deixa claro o objetivo na ponta do lápis: proporciona a melhor eficiência energética possível ao motor à combustão e tenta manter o veículo livre de matrizes não controláveis, certificando que com certeza o impacto final do veículo estará de acordo com a expectativa inicial. A conta pode não ter o melhor resultado, mas tem o mais responsável e previsível.


PRÓXIMOS DESTINOS é uma coluna quinzenal. Propõe um olhar à frente, junto à nova economia, à hiperconectividade e aos novos arranjos sociais.

Alberto Martins é técnico em Mecânica, Designer de Produtos, MBA em Gestão de Projetos, entusiasta de história, sociedade e antigomobilismo, e apaixonado por novas tecnologias e novas possibilidades do dia a dia.

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