quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A ALEMANHA, A EMISSÃO ZERO E OS AUTOMÓVEIS ELÉTRICOS


PRÓXIMOS DESTINOS, Alberto Martins


O acordo alemão propondo o fim de veículos com motor a combustão agitou as páginas de notícia. Publicado há um mês, o acordo entre os 16 estados da Alemanha marca o fim da produção alemã destes veículos em 2030 e impossibilidade de rodarem a partir de 2050.


A notícia chama mais atenção ao nos lembrarmos que foi justamente na Alemanha que o automóvel nasceu, apresentado em 1886 por Karl Benz, e que a indústria automobilística é uma das mais fortes do país. Mas dois fatores culturais são determinantes para entendermos esta movimentação: o esforço alemão na direção do desenvolvimento sustentável e a participação conjunta de estado, indústria e população no planejamento de ações.

O recente episódio envolvendo a VW com os modelos a diesel e suas emissões manipuladas foi, com o perdão do trocadilho, uma mancha negra no histórico de um país que vem trocando toda sua matriz energética por energias limpas. Esforço que passa por toda geração de energia, e ampliado em soluções como transporte público, uso de resíduos e égua, e etc. com ações que levam o país a colecionar títulos em rankings de “Cidade Verde”.

Elétricos: da Califórnia à Alemanha, de 1996 a 2016

Impossível ver o acordo alemão e não se lembrar da Califórnia dos anos 90 e a mesma promessa de erradicar os carros a combustão. Os norte-americanos viabilizaram um governador Hollywoodiano e um presidente negro, mas a meta do automóvel elétrico não. Estudos atuais dizem que tecnicamente as baterias da época eram pouco eficientes, enquanto outros afirmam que houve lobby da indústria do petróleo após a Guerra do Golfo, historia contada no documentário “Quem Matou o Carro Elétrico”, de 2006.

Controvérsia à parte, é inegável que nestes 20 anos a tecnologia evoluiu muito, estimulada pela necessidade de portabilidade de energia criada pelos gadgets. Para atender a estas demandas as baterias passaram a usar novas ligas, mais leves e menos expostas a vícios de uso. Como referencia, sabemos que um Chevrolet EV01 de 1996 tinha autonomia 160km com seus 1100kg só de bateria, enquanto um Tesla atual roda até 430km com estimados 400kg de baterias.

A tecnologia ainda proporciona mecanismos para otimizar energia que não existiam 2o anos atrás. Sistemas de regeneração de energia nas frenagens, células fotovoltaicas no teto e materiais tecnológicos em painéis de carroceria para reduzir peso tornam a proposta mais viável hoje. Ajuda também o fator cultural: em 1996 não era comum chegar ao fim do dia e por algo para carregar como é hoje, e os dispositivos de interface tem tornado o automóvel muito mais customizável que anos atrás. O que era apenas exótico, ficou intuitivo e divertido.

Impacto ambiental: muito além do automóvel

A conta do impacto ambiental vai além do uso do automóvel. No caso do automóvel, a Análise de Ciclo de Vida pede a observação e calculo do impacto de todos os processos para a fabricação e uso do veículo. Estes processos incluem resíduos de uso, de combustíveis e da extração de matéria e obtenção de energia. 

A expansão da eletricidade como energia motriz de transportes levanta discussões acaloradas quando se fala em impacto ambiental. Longe de ser limpo, o automóvel a combustão despeja ao longo de sua vida óleo lubrificantes e fluidos refrigerantes com grande impacto ambiental, mas permite o uso de combustíveis de origem vegetal. Sobre os veículos elétricos, contam contra o material e o descarte das baterias, extremamente toxicas. O diferencial na conta vai caber à origem da energia elétrica. Em países como a china, com matriz energética por termelétricas, apenas se troca o local de emissão de carbono pela imagem de “ecologicamente correto”.

Fica portanto ainda o mesmo questionamento: quão importante é o automóvel na mobilidade urbana? Não seria ecologicamente correto o considerarmos mais adequado apenas para usos específicos, ou integrado com o transporte público?


PRÓXIMOS DESTINOS é uma coluna quinzenal. Propõe um olhar à frente, junto à nova economia, à hiperconectividade e aos novos arranjos sociais.

Alberto Martins é técnico em Mecânica, Designer de Produtos, MBA em Gestão de Projetos, entusiasta de história, sociedade e antigomobilismo, e apaixonado por novas tecnologias e novas possibilidades do dia a dia.

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