terça-feira, 15 de novembro de 2016

SALÃO DO AUTOMÓVEL DISCUTE A ERA PÓS-AUTOMÓVEL


PRÓXIMOS DESTINOS, Alberto Martins

Toyota Prius
Foto: Maximiliano Moraes



Aberto ao público dia 10 de novembro, o Salão Internacional do Automóvel de São Paulo traz à tona a realidade de que o automóvel atual está com os dias contados. Enquanto em curto prazo o mercado pede SUVs, que consomem mais combustível e demandam mais material e energia para produzir, o futuro aponta para veículos híbridos, elétricos ou movidos a célula-combustível, conectividade para melhor uso ou compartilhamento do automóvel e serviços agregados para aumentar a segurança e minimizar os impactos de uso.



O visitante padrão tem neste ano oportunidades antes não imaginadas. Grifes de luxo estão com seus stands abertos e com grande parte dos seus veículos acessíveis. Carros-conceito sinalizam de maneira mais clara os futuros lançamentos e marcas acessíveis anunciam serviços agregados aos produtos para aproximar e fidelizar clientes, alguns deles já perdidos. O visitante passa a ser protagonista.



Todo este esforço não é em vão. O Brasil é um mercado que ainda oferece possibilidade de crescimento, especialmente depois de meses de retração expressiva. As vésperas da crise diversas marcas se instalaram no país como fabricantes, contando com o crescimento - que foi adiado pela recessão - em um país que ainda tem mão de obra, espaço, material e energia, condicionantes básicas para o funcionamento econômico. Apesar disso, novos comportamentos sinalizam para a conscientização do uso do automóvel, para a necessidade de ferramentas de interface mais inteligente entre usuário e máquina, e para a experiência de uso sem necessidade de posse.



Mobilidade urbana em debate



A ABERJ, Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, promoveu em paralelo ao Salão e com apoio da GM o Terceiro Encontro de Comunicação para Mobilidade. Este evento encerrou um pequeno ciclo de debates que visa discutir a comunicação da mobilidade urbana, propor novas estratégias e diferentes ações para desafogar o trânsito das grandes cidades e proporcionar transporte público de qualidade para toda a população. Temas como planejamento urbano, custo do transporte, integração dos setores público-privado, uso de ferramentas digitais munidas de informações da população e sistemas multimodais de transporte deram a tônica da conversa, que contou com a presença de Osias Baptista, especialista em mobilidade, Ronald Gimenez, editor chefe da Rádio Transito de SP e Andrea Leal, especialista em políticas públicas do Uber.



Na tarde do mesmo dia outro evento organizado pela GM deu continuidade ao tema. O Tracker Talks the City propôs o lançamento do novo Tracker com a discussão de "como ocupar a cidade". Através da exposição de práticas de ocupação urbana e melhoria da qualidade de vida, Gilberto Dimenstein (autor do portal Catraca Livre), Facundo Guerra (empresário de entretenimento) e Eduardo Kobra (artista) mostraram como a cidade deve ser repensada para as pessoas. Ações de empreendedorismo, gestão social e intervenção urbana já mostram na prática os novos modos de viver que são discutidos em mobilidade e experimentados na nova abordagem do Salão do Automóvel. O Designer Marcos Miwa representou a empresa relacionando como estas percepções foram traduzidas na reestilização do modelo.



Discussões para a prática



Muito longe de altruísmo, a intenção da GM com estes eventos é estratégica. A empresa já testa no Brasil o Maven, seu sistema de compartilhamento de automóveis já abordado nesta coluna, e tem nos EUA o Lyft, serviço semelhante ao Uber. Na plateia dos dois eventos estavam alguns dos principais gestores da empresa, dispostos a ouvir o que aquele cliente que hoje está no Salão vai buscar nos próximos anos. 



Estas discussões não se reservaram aos eventos da GM. Na prática a Audi estreou seu programa de compartilhamento de automóveis, a Porsche lançou seu SUV híbrido, a Fiat festejou seu sistema de espelhamento automóvel-celular, a BMW comemorou o sucesso dos seus elétricos e a Mercedes lançou seu Classe E sob o slogan "O veículo mais inteligente da classe executiva". Entre os conceitos, propostas de modelos autônomos com propulsão limpa e uso intuitivo.



Este futuro não é tão distante e já podemos afirmar: o automóvel fará parte de uma plataforma integrada a outros meios de transporte, seu uso tende a ser compartilhado e a posse do veículo será substituída pelo acesso ao transporte com uso de plataformas eletrônicas. A propulsão será com energia renovável e a direção tende a ser autônoma, para controlar o tráfego e assim minimizar engarrafamentos e evitar acidentes.



Mas ainda ficam algumas perguntas: Como a legislação afeta o desenvolvimento destas iniciativas e como estes processos de inovação podem ser amparados em uma sociedade com sistema de leis antigo e lento? Como as gritantes diferenças sociais e os problemas de segurança pública podem afetar estes novos modos de consumo, e quais ferramentas de segurança devem ser desenvolvidas para isso? Como a população que não vai ao Salão do Automóvel e não participa de ações culturais terá acesso a estes serviços, visto que seus modos de viver ainda não são conhecidos?



Pelo visto, ainda temos muito a conversar neste sentido.





PRÓXIMOS DESTINOS é uma coluna quinzenal. Propõe um olhar à frente, junto à nova economia, à hiperconectividade e aos novos arranjos sociais.

Alberto Martins é técnico em Mecânica, Designer de Produtos, MBA em Gestão de Projetos, entusiasta de história, sociedade e antigomobilismo, e apaixonado por novas tecnologias e novas possibilidades do dia a dia.

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