segunda-feira, 17 de julho de 2017

HONDA WR-V EXL CVT x JAC T5 CVT



No último Salão do Automóvel de São Paulo nossa reação (e de muitos outros jornalistas ali) diante do novo Honda WR-V foi vê-lo e apresentá-lo, a princípio, como um crossover, pelo que fomos repreendidos pela marca: "É um SUV." Pois bem, Honda. Não por isso.

Depois de ter passado uma semana com o modelo na versão EXL CVT, porém, concluímos o que praticamente todo mundo já sabia: assim como quase todos os modelos disponíveis no segmento (que a treta comece) o novo WR-V não é um SUV. Nem ele nem o JAC T5 CVT, com quem o comparamos e que também é chamado de SUV pela marca. Fato é que, independente da forma como os chamemos, o japonês e o chinês são muito parecidos: ambos atendem ao mesmo público, têm motores 1.5 16v, transmissão CVT, espaço, bom pacote de equipamentos e preços não tão distantes.

ESPAÇO NA CABINE, PRATICIDADE E ERGONOMIA



Para quem vai na frente o espaço é melhor no T5. Os bancos são confortáveis, apóiam bem as costas, têm um pouco mais de apoio para as coxas e as pernas vão mais esticadas ali. O problema é a ergonomia. Nem tudo é difícil de acessar, como os comandos do ar condicionado, a central multimídia e a alavanca de câmbio. Mas os comandos dos vidros estão um pouco recuados nas portas e o comando dos retrovisores elétricos fica escondido à esquerda, atrás do volante, junto com o ajuste do facho dos faróis.

O ajuste da coluna de direção também é muito limitado, com pouca amplitude e somente em altura. Há ainda poucos nichos, somente 1 porta-copos (bem raso) e o porta-objetos do apoio de braços é pequeno, mas, pelo menos, os bolsões das portas contam com bom espaço.



O Fit sempre foi referência em aproveitamento de espaço e no WR-V não é diferente. Porém, apesar do excelente espaço para a cabeça há menos espaço para as pernas na frente, que, se o motorista tiver mais de 1,85 m de altura, viajam mais encolhidas e, consequentemente, com menos apoio para as coxas. O ajuste de altura do banco do motorista conta com menor amplitude que no T5, mas o Honda dá o troco disponibilizando ajuste de altura e de distância da coluna de direção.

A ergonomia também é excelente, com todos os comandos ao alcance das mãos. A cabine do WR-V é ainda mais prática, com nichos, bandejas e porta-copos ao dispor, inclusive um deles em frente ao difusor do ar-condicionado à esquerda do volante, para manter a bebida fresquinha. Mas atrás, apesar de haver praticamente o mesmo espaço para as pernas, a largura é menor - ou seja, 3 passageiros viajam mais apertados - e o vão de entrada é mais baixo, o que prejudica o acesso.

Espaço na frente: T5 1 x 0 WR-V
Espaço atrás: T5 2 x 0 WR-V
Praticidade: T5 2 x 1 WR-V
Ergonomia: T5 2 x 2 WR-V

PORTA-MALAS



Segundo a Honda, o porta-malas do WR-V comporta 363 litros, bom para um compacto como o Fit mas nem tanto em comparação com alguns SUVs do mercado. O vão de entrada é amplo e nem tão alto, o que facilita acesso e acomodação de bagagens. Por fim, o sistema ULT torna muito prática a acomodação de volumes mais altos pelas portas traseiras, além de ser possível inserir volumes mais compridos usando o rebatimento em 1/3 ou 2/3 do banco traseiro.



O do T5 pode não ser tão prático, mas não perde feio nesse quesito. O banco traseiro também desce em partes e acomoda da mesma forma volumes mais compridos. O vão de entrada pode ser mais alto, sendo preciso erguer mais os volumes para acomodar, mas a capacidade de carga é bem maior. A JAC fala em 600 litros de capacidade, mas acreditamos que o sistema de medição foi diferente do usado pela maioria dos fabricantes porque, visualmente, o espaço ali é muito semelhante ao encontrado no HR-V, por exemplo. Mesmo assim não há dúvidas que há mais espaço disponível.

T5 3 x 2 WR-V

MONTAGEM E ACABAMENTO



O T5 mostra como a JAC progrediu em termos de montagem e acabamento desde que chegou no país. As peças no interior são bem encaixadas, não há vãos aparentes e o couro nos bancos e volante ajudam a melhorar o aspecto geral da cabine. Por outro lado todo o painel é feito de plástico e mesmo com boa aparência e textura, não chega ao nível que encontramos no WR-V. O layout dos instrumentos também é bem agradável, mas olhando aqui e ali ainda sentimos algo genérico no ar.



O Honda também usa plástico em todo o painel, mas textura e aparência são claramente melhores. A montagem, como é padrão na Honda, é muito bem feita e o layout geral é mais moderno e jovial. Os bancos são forrados em tecido, mas isso não indica menor qualidade.

T5 3 x 3 WR-V

DESEMPENHO


Motor do T5 rende até 127 cv e 15,7 kgfm com etanol...

...enquanto o do WR-V rende até 116 cv e 15,3 kgfm

A JAC foi muito feliz quanto ao acerto da transmissão CVT para o T5 e seu casamento com o motor 1.5 16v VVT Flex, o melhor da marca hoje no país. O carro deslancha bem, não parece letárgico e é competente em retomadas. Mas há 2 fatores que tornam o Honda superior ao JAC.

O torque de ambos é muito próximo, 15,3 kgfm no japonês e 15,7 kgfm no chinês quando usam etanol. Mas o acerto de transmissão do Honda deixa o carro um pouco mais solto e ágil no trânsito, e com quase 100 kg a menos (1.123 kg contra 1.210 kg do JAC), é fácil deduzir por que seu desempenho é superior em praticamente todos os aspectos.

T5 3 x 4 WR-V

SUSPENSÃO



Ambos têm resultados muito distintos quanto ao acerto de suspensão. Enquanto o JAC é mais macio, o Honda é mais firme. O T5 passa por imperfeições de maneira mais lisa, como se sentisse menos as irregularidades do asfalto. A contrapartida é que ele oscila um pouco mais em velocidade, mesmo sem demonstrar insegurança ou apresentar qualquer desvio de trajetória. Em curvas, uma vez apoiado ele faz curvas com a mesma competência que o WR-V.

No Honda sente-se mais as imperfeições, mas não a ponto de haver batidas secas. O curso da suspensão é longo e mostra robustez. A forma como ele encara altas velocidades e curvas remete mais ao comportamento de um compacto como o Fit como de um SUV, como a Honda quer classificá-lo - e isso não é demérito algum, já que ele consegue ser ainda mais estável que o modelo que lhe deu origem.

Ambos atendem bem, sendo apenas diferentes e não um melhor que o outro. Quem gosta de mais maciez vai preferir o T5 e quem prefere firmeza, o WR-V.

T5 4 x 5 WR-V

CONFORTO



Pelo fato de ter suspensão mais macia o JAC consegue ser um pouco mais confortável ao rodar. Isso não significa que ele seja menos "na mão" que o Honda; é só uma questão, como já dissemos, de preferência de acerto. No WR-V a suspensão, apesar de firme, é mais permissiva e silenciosa que no Fit - em parte, graças ao maior curso.

Por outro lado, o nível de ruído nas acelerações é mais alto do que gostaríamos em ambos os modelos. Tanto JAC quanto Honda conseguiram isolar bem os carros em rotações baixas e médias, que ocorrem na maioria das situações de trânsito, mas quando é preciso acelerar para retomar velocidade ou enfrentar subidas o barulho dos motores invade as cabines sem dó. No JAC, creditamos isso ao funcionamento um pouco áspero do motor, característica que parece ser inerente a todo modelo da marca equipado com esse propulsor no país. No Honda, a partir da abertura das válvulas em rotações mais altas o ruído do motor se torna mais agudo e aparente.

T5 5 x 6 WR-V

DIREÇÃO


Se o acerto macio da suspensão do T5 não chega a provocar insegurança, não ocorre o mesmo com a direção, que conta com assistência elétrica. O problema está também em altas velocidades, já que o sistema não consegue gerar o peso adequado, deixando o volante um pouco solto. Manobras, porém, são feitas sem esforço e curvas, como a gente já falou, também são feitas de forma competente.

No WR-V a direção é melhor. Também há assistência elétrica e as manobras são feitas com a mesma leveza, mas é em velocidade que ele mostra sua superioridade. O carro fica sempre à mão, com o volante assumindo o peso que se espera. Não há desvios nem oscilação lateral em velocidade e curvas são feitas quase com a mesma competência de compactos esportivos.

T5 5 x 7 WR-V

ESTABILIDADE



Vamos falar sobre curvas pela terceira vez, mas considerando algumas babás eletrônicas que um modelo tem e o outro, não. Lembramos que o JAC é estável e, apesar de oscilar em velocidade, uma vez apoiado ele contorna curvas com a mesma competência que o Honda. Este é mais firme, mais à mão e deixa o motorista mais à vontade para guiá-lo. Mas numa emergência os controles de tração e estabilidade presentes no T5 podem fazer a diferença. Ainda que o Honda seja mais preciso é necessário lembrar que o motorista comum pode não conseguir fazer uso dessa característica em situação de risco. A eletrônica aqui ganha o quesito.

T5 6 x 7 WR-V

CENTRAL MULTIMÍDIA



Resolvemos falar sobre o equipamento à parte porque cada um apresenta funcionalidades e soluções diferentes. Nenhum dos carros apresenta um equipamento tão bom. No JAC o layout da tela principal é bem claro, mas a partir do acesso às funcionalidades os comandos se tornam confusos. A qualidade sonora do áudio também não é das melhores e não há GPS. Pelo menos ela permite o espelhamento de celulares, ainda que isso seja feito de forma pouco prática (com o uso de cabo e aplicativo), mas o Waze pode ser projetado na tela e o problema da falta de GPS fica solucionado.

No Honda a central multimídia possui GPS. Mas passamos a semana inteira tentando fazer a tela adquirir mais sensibilidade e mesmo assim foi bastante difícil inserir endereços. Além do mais não há espelhamento para celulares e a qualidade sonora fica no mesmo nível da do JAC, mesmo com os (poucos) ajustes de equalização.

T5 7 x 7 WR-V

EQUIPAMENTOS



A lista do T5 é maior. O WR-V o supera por trazer 6 airbags (são apenas 2 no T5), coluna de direção regulável em altura e profundidade e sistema ULT de rebatimento de bancos. Mas o JAC traz ar digital (no Honda é analógico), monitoramento de pressão de pneus, regulagem de altura do facho dos faróis, assinatura em LED, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampas, revestimento em couro para bancos e volante, sensor de luminosidade e sensor de estacionamento. Com tudo isso ele ainda custa quase R$ 6.500 menos que o japonês: a JAC pede R$ 76.990,00 pelo T5 CVT completo, enquanto a versão EXL do WR-V, como a que testamos, tem preço sugerido no site de R$ 83.400,00.

Equipamentos: T5 8 x 7 WR-V
Preço: T5 9 x 7 WR-V

CONCLUSÃO



Pela pontuação fica muito fácil concluir que o JAC T5 CVT é um produto melhor. Ele reúne o que o consumidor de SUVs mais procura: espaço, equipamentos, conforto, robustez e preço mais em conta, além de garantia maior.

Mas a gente não pode ignorar a forma como o mercado funciona. Pondo isso em consideração o Honda WR-V EXL CVT se torna um negócio melhor. Isso porque mesmo sendo mais caro, deixando a desejar em equipamentos e oferecendo um pouco menos de espaço, ele tem uma rede de assistência muito maior e muito premiada pela competência de seus serviços, além de, a julgar pela aceitação do Fit no mercado de usados, ter um prognóstico de desvalorização bem menor e liquidez muito maior que a do T5.

Pontuação não é tudo, então. Ambos terminam o comparativo em pé de igualdade: quem quer um bom produto e não se preocupa tanto com desvalorização vai ter no JAC uma excelente compra. Quem não precisa tanto de espaço e não pretende ficar com o carro tanto tempo, esperando ainda maior valor de retorno na hora de se desfazer de seu carro, tem no Honda a melhor escolha.

6 comentários:

  1. Mais uma vez, excelente conteúdo. Ponderado, informativo e preciso. Obrigado!

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  2. Parabéns pela analise imparcial, quem ganha é o leitor consumidor.

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  3. Gostei da matéria. Se a jac oferecesse uma melhor motorização, maior e mais confiavel rede de concessionaris e 6 airbags, como a honda no Wrv, seria uma escolha certa pelo preço no nosso mercado.
    Quanto a desvalorização do T5 segue esse link: http://jornaldocarro.estadao.com.br/carros/jac-t5-desvaloriza-menos-que-duster-e-ecosport/

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  4. Faltou comentar em vias gerais o custo das revisoes e o custo de seguro nas capitais. Sobre a conclusão, discordo do Honda ser um melhor negócio. Possuo um city ex 2013 que custou na epoca 53k, com ar digital e tudo mais. De la pra cá, a honda só fez aumentar preços e diminuir equipamentos. Em parte a culpa se deve pelas materias e pessoas que são fãs da marca, mas nao pensam racionalmente.

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    1. Estamos em Campinas e nossa análise leva em consideração o uso do carro nesta cidade e nas demais de sua região metropolitana e entorno. Para calcular custos de seguro em capitais precisaríamos fazer uma pesquisa que consideramos desnecessária para esta reportagem, já que preços de seguro variam de acordo com o perfil do comprador. Quanto à manutenção, nem o Honda WR-V nem o JAC T5 têm planos com preços fixos de revisões sugerido pela marca, outra vez inviabilizando a inserção dessa informação na reportagem.

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  5. AMBOS TEM O MESMO ARO/RODAS E TIPO DE PNEUS?

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